A quinta-feira santa celebra três dádivas de Jesus Cristo à sua Igreja e à humanidade: o sacerdócio ministerial, o mandamento novo e a eucaristia. Tudo isso tem como fundamento o serviço, simbolizado no gesto do lava-pés.
Datas e terminologia
A celebração da quinta-feira santa como memória especial da Ceia do Senhor tem sua primeira notícia histórica no Século IV. O Sacramentário de Gelásio (século VII [?]) traz três missas: uma para a reconciliação dos penitentes que tinha a mesma antífona que cantamos hoje: "Nos autem gloriairi opportet in cruce" ("Nós, porém, nos gloriamos na cruz..."); a segunda missa era a Missa Crismal, da Bênção dos Santos Óleos e a terceira comemorava a Instituição da Eucaristia.
No século VI e VII, a quinta feira santa era chamada de "Natalis Calicis". Até antes da reforma, era chamada de "Feria V in Coena Domini". Após a reforma litúrgica, a terminologia passou a ser "Feria V Hebdomadae Sanctae" (Quinta-feira da Semana Santa) para a terminologia geral e, para as duas missas celebradas neste dia: "Ad Missam Chrismatis" para a missa crismal, realizada na quinta-feira santa pela manhã e "Missa vespertina in Cena Domini", para a Missa vespertina da Ceia do Senhor.
Características
Com a missa vespertina da Ceia do Senhor tem início o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Celebra-se nesta noite, a Páscoa Ritual: aquilo que Jesus realizaria posteriormente na cruz, ele o fez em forma ritual dando à Igreja e à humanidade o sacramento da Eucaristia. A antífona de entrada desta missa, do texto de Gl 6,14, anuncia o tema global de todo o Tríduo Pascal: a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória; nele está a nossa vida e ressurreição e nele está a salvação e a libertação. É a redenção presente no Mistério Pascal celebrado no Tríduo: Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.
No Missal de Pio V, que antecedeu o atual Missal de Paulo VI, o padre deveria consagrar duas hóstias grandes, uma das quais era colocada, depois da comunhão, num segundo cálice, coberto com pala, patena e véu, para a adoração ao Santíssimo, que dava prosseguimento à celebração.
Outra particularidade desta missa era a ausência do abraço da paz. Antigamente, porque os penitentes (aqueles que seriam reconciliados com a Igreja na Vigília Pascal) já haviam recebido o abraço da paz antes da missa e, nos séculos posteriores (Idade Média de modo particular), para se ter o cuidado de não cair no mesmo erro do beijo traidor de Judas Iscariotes.
Interessante perceber que o clero, inclusive os padres que participavam da missa, recebiam a comunhão somente do pão e das mãos do presidente da celebração. Juntamente com a desnudação do altar, todas as pias de água benta deveriam ser esvaziadas e permanecer secas até a bênção da água lustral, na Vigília Pascal.
Depois do Hino do Glória, os instrumentos eram calados, bem como os sinos e sinetas. Cantava-se a capela e, em vez dos sinos, batia-se a matraca, um instrumento sonoro de madeira, em respeito ao clima da Paixão de Jesus que já começava a ser celebrado nesta missa. Alguns alegoristas do século IX, entre eles Amalário de Metz, denominava este gesto de jejum dos ouvidos.
Característica do dia litúrgico
Duas celebrações marcam a quinta-feira santa: a Missa Crismal e a Missa da Ceia do Senhor. Por motivos pastorais, esta celebração poderá ser antecipada para 4ª feira santa.
A Missa Crismal reúne em torno do Bispo o clero da diocese (padres e diáconos) e todo o povo de Deus, ou ao menos uma boa representação das comunidades paroquiais que formam a diocese. Nesta missa são abençoados os óleos dos catecúmenos e dos enfermos e consagrado o Santo Óleo do Crisma. Uma vez que esta missa caracteriza-se como uma grande ação de graças a Deus pela instituição do ministério sacerdotal na Igreja, nesta missa, os padres presentes renovam as promessas sacerdotais.
A missa "In coena domini" (Ceia do Senhor) é celebrada ao anoitecer da quinta-feira santa. Nesta celebração faz-se memória da Instituição da Eucaristia e do mandamento novo. Após a homilia, pode-se realizar o rito do lava-pés (é facultativo), repetindo assim o gesto de Jesus que, na última ceia lavou os pés de seus discípulos (Cf. Jo 13,3-17).
No final da missa, depois da última oração da missa, o Santíssimo Sacramento é levado em procissão até um tabernáculo fora da igreja ou localizado na lateral da mesma, diante do qual, a comunidade é convidada a fazer adoração solene até a meia noite e, após este horário, a adoração é simples e silenciosa. Fora do rito, o altar é desnudado e todas as flores e enfeites são retirados da igreja.
Organização da celebração
A celebração acontece em quatro momentos:
1 - Liturgia da Palavra = apresenta uma conexão entre Páscoa judaica e Páscoa cristã.
2 - Lava-pés = descreve em modo gestual a Páscoa de Cristo como serviço.
3 - Eucaristia = destaca o memorial da instituição da eucaristia ("neste dia" no Canon Romano).
4 - Reposição do Santíssimo = gesto de adoração pela presença do Senhor na eucaristia.
Pesquisa realizada por:
Serginho Valle