Pe. Darley Kummer - Vigário Vicariato |
LIBERDADE INTERIOR E AMOR A IGREJA - PARTE 1
Pe. Darley José Kummer
Vigário Episcopal do Vicariato de Canoas
Se a maturidade eclesial implica
a capacidade de avaliar objetivamente e de agir coerentemente por parte do
indivíduo, então se impõe o exame prévio da existência ou não da liberdade
interior. Caso contrário, outros elementos podem ditar nosso juízo, como o
poder, a honra, o cargo hierárquico, a ciência adquirida, a vaidade. Como desmarcara-los? Três critérios
para nos ajudar, inspirados nos exercícios espirituais de Santo Inácio de
Loyola:
1. Seguir em tudo o modo
de proceder de Jesus Cristo, através do estudo e da meditação de sua vida.
2. Buscar sempre como
meta o Reino de Deus para não ceder a qualquer outro objetivo de cunho humano.
3. Voltar-se para o que
significa serviço autêntico e escondido desprovido de poder e prestígio.
Somente a liberdade interior nos livra da ambição, do mundo, do desejo de
granjear favor ou de descarregar ressentimentos, que impedem de início um juízo
objetivo sobre questões surgidos no interior da Igreja.
Deixemos claro que a liberdade interior não
significa primeiramente uma conquista, pois ele é fruto do Espírito Santo (2
Cor 3,17). De fato, “é para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gálatas 5,1).
Esta liberdade não constitui apenas um dom, mas também uma tarefa: “se vivemos
pelo Espírito, procedemos também de acordo com o Espírito” (Gálatas 5,25).
Entretanto, esta ação libertadora do Espírito de
Deus se exerce num ser humano, dotado de um corpo com suas exigências,
inseridos numa sociedade com sua horizonte cultural e sua estrutura
organizativa, bem como sujeito ao imperativo de estar sempre interpretando a
realidade a partir de suas experiências, de seus conhecimentos e, portanto, e
seus pontos de vista. Só assim ele poderá tomar posição, reagir, aderir, ou
rechaçar o que seu entorno lhe oferece. Embora confessando a mesma fé, nenhum
de nós detém o monopólio do discurso único e universal, pois o mesmo, ao se
expressar, inevitavelmente denuncia o solo particular de onde brotou.
Temos ainda de estar atentos as tentações em
relação à Igreja. Na cultura da eficácia e da produtividade, hoje reinante, nos
faz considerar a Igreja como uma instituição com escassos resultados visíveis,
devido a maneira de ser e de agir, considerada incompatível com a sociedade
atual. Confunde-se, assim, Igreja e Reino de Deus. Aplicam-se à Igreja os
critérios empresariais de sucesso e de fracasso. Nivela-se, deste modo, a
Igreja a qualquer outra instituição social. Tentação forte em nossos dias pelos
aparecimento e desenvolvimento das ciências das religiões, sempre que alguns
presumem poder emitir um juízo sobre uma realidade que ultrapassa. Talvez
subjacente às novas tentações esteja a Igreja da Cristandade dotada de poder,
prestígio, influência social, sucessos. Não estaremos esquecendo que a salvação
nos veio pela Kênose do Filho de Deus, que instaurou e propagou o Reino de Deus
através dos mais pobres e insignificantes da sociedade, que aos olhos do mundo
fracassou em seu objetivo, e que demosntrou a força de Deus na fraqueza humana?
Fonte: Coleção SAL E LUZ (Volume I) – Mário de
França Miranda SJ CNBB
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